sexta-feira, 8 de junho de 2007

TEXTO COMPLEMENTAR: AS MULHERES EM CHAMAS — AS BRUXAS



As pilhas de lenhas e gravetos já estavam acesas e a multidão, inquieta, aguardava o início do ritual que conheciam tão bem. Afinal, execuções eram espetáculos imperdíveis. que atraíam a atenção de pessoas vindas de vários cantos. Em meio ao ruído abafado dos comentários sobre os horrores que havia cometido, surgiu enfim a condenada turba, que já estava agitada, aproveitou para libertar a tensão reprimida: objetos, palavras de ódio, risos e piadas partiam de todas as direções contra a terrível criatura. Nãohouve muitas delongas. A sentença foi lida rapidamente o carrasco, num gesto piedoso, estrangulou a condenada para que não enfrentasse as chamas viva e, em poucos minutos, seu corpo ardia, diante da aclamação selvagem da assistência. (...)

De 1450 a 1750, poucas pessoas ousariam contradizer essa doutrina, repetida em tom de ameaça nos púlpitos dos pregadores católicos, assim como nos sermões protestantes depois da reforma religiosa de Martinho Lutero, no século XVI. Bruxaria era uma calamidade tão real quanto tempestades ou pestes, e intimamente ligada à natureza feminina. Com exceção de Portugal e Espanha, onde os principais perseguidos eram cristãos-novos e judeus, em quase toda a Europa a porcentagem de mulheres excedeu 75% dos casos. Em algumas localidades, como o condado de Namur (atual Bélgica), elas responderam por 90% das acusações. Estima-se que 100 000 processos foram instalados pelo continente afora e pelo menos 60000 vidas se perderam em meio às chamas.

Foi em plena Idade Moderna — a mesma que presenciou a descoberta de um novo mundo com as grandes navegações, a ascensão da burguesia comercial, o fim do domínio feudal e a formação dos primeiros Estados nacionais europeus — que o temor às forças do mal deixou o campo da crendice popular para se tornar alvo de uma perseguição sistemática de tribunais leigos, religiosos e da Inquisição — sob controle papal.

(Revista Superinteressante. Fevereiro de 1993.)




Filmes Recomendados: As Bruxas de Salém. Direção Nicholas Hyther. EUA, 1996 e O Judeu. Direção Jom Tob Azulay. Portugal-Brasil, 1996.

Nenhum comentário: