terça-feira, 5 de junho de 2007

Frango precedeu naus de Colombo


Matéria da Folha de São Paulo de hoje. Pode ser interessante para o nosso estudo, já que estamos falando d ecolonização.



Frango precedeu naus de Colombo

Osso de galinha achado no Chile mostra que polinésios desembarcaram na América antes do século 16 Análise de DNA mostra que primeiro espécime trazido ao continente tinha mais semelhança com aves dos povos ilhéus do Pacífico

STEVE CONNOR DO "INDEPENDENT"

Um osso de galinha encontrado no Chile foi apresentado ontem por arqueólogos como a evidência mais forte até hoje de que navegadores da Polinésia chegaram às Américas antes de o Novo Mundo ter sido descoberto pelos europeus.
A possibilidade de polinésios terem tido contato direto com povos indígenas da América do Sul há mais de 600 anos é aventada há tempos por antropólogos, mas sem indícios muito concretos.
Um trabalho publicado agora por cientistas chilenos e neozelandeses, porém, mostrou que o povos ilhéus do Pacífico podem ter chegado ao continente pelo menos cem anos antes de Cristóvão Colombo. E levando frangos vivos na bagagem.
O osso de frango apresentado pelos cientistas, descrito em estudo na edição de hoje da revista "PNAS" (http://www.pnas.org), é anterior ao século 15 e possui DNA semelhante ao de variedades de galinhas atuais na Polinésia.
Galinhas domésticas criadas hoje no mundo um todo são provavelmente um espécie derivada de de aves selvagens criadas na Índia séculos atrás. Os povos indígenas americanos, porém, que chegaram às Américas há mais de 10 mil anos pelo estreito de Bering, ainda não dominavam o trato com os frangos.
O fato, porém entrava em conflito com relatos históricos do conquistador espanhol Francisco Pizzaro, que afirmou ter visto sacerdotes incas usarem galinhas em sacrifícios em 1532 no Peru.
Muitos historiadores defendiam a idéia de que aquelas aves teriam sido introduzidas na região pelos próprio espanhóis, mas a hipótese da travessia polinésia ganha força agora com o estudo na "PNAS"
"A teoria mais comum sugeria que exploradores espanhóis ou portugueses teriam introduzido os frangos quando chegaram à costa oeste da América do Sul por volta de 1500", diz Alice Storey, antropóloga da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, autora principal do estudo.
"Essas novas evidências genéticas, porém, sugerem que os frangos vieram da Polinésia e dão suporte à idéia de que polinésios desembarcaram na costa oeste da América do Sul."
Os osso de frango datado pelos pesquisadores haviam sido encontrado em meio mais de 50 fragmentos achados no sítio arqueológico de El Arenal, na península de Arauco (centro do Chile). Segundo os pesquisadores, a ave analisada deve ter vivido entre 1321 e 1407, e provavelmente chegou à América do Sul mais de cem anos antes do navegado português Pedro Álvares Cabral.

Conexão cultural

"Os resultados fornecem não apenas evidências sólidas da introdução dos frangos nas Américas, mas sugere com força que ela foi obra dos polinésios", escrevem os autores.
Até agora, porém evidências de uma conexão cultural direta entre polinésios - povos derivados do Sudeste Asiático - e nativos sul-americanos eram circunstanciais. Lingüistas já haviam identificado similaridades na fala de alguns povos, e antropólogos já haviam apontado para a presença de espécies de planta americanas na Polinésia. A batata-doce e a cabaça, por exemplo, chegaram às ilhas do Pacífico muito antes da Expansão Ultramarina espanhola e portuguesa.
Storey e e seus colegas sugerem que marinheiros polinésios podem ter usado a força dos ventos alísios do hemisfério Sul para navegar junto com sua carga de frangos vivos até a Costa do Chile.

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