sábado, 2 de junho de 2007

2º BIMESTRE: Lutero e as rebeliões camponesas


As revoltas camponesas não eram raras na Europa. Oprimidos por altos impostos e obrigações feudais, as tensões eram permanentes. A partir de 1521, quando a excomunhão de Lutero condenou os protestantes à ruptura com Roma, as agitações cresceram entre os camponeses. Pregadores radicais como Thomas Munzer falavam contra o poder dos príncipes e as obrigações feudais. Em 1525, seus seguidores tomaram a cidade de Mulhausen e proclamaram o “Conselho Eterno”. Na região de Memmingen, 30 mil camponeses em armas ameaçavam a “ordem”. Eles produziram um documento, os “Doze Artigos” explicando os motivos de seu levante e o enviaram à Lutero. Lutero respondeu num panfleto que criticava tanto os senhores e príncipes como os camponeses, mas se mostrava ainda acolhedor com algumas demandas dos revoltosos:
Não temos ninguém a quem agradecer esta rebelião maligna a não ser vós, príncipes e senhores, e principalmente vós, bispos e padres e monges alucinados, cujos corações estão endurecidos contra o Santo Evangelho, embora saibais que é verdade e que não podeis desmenti-lo. Além disso, em vosso governo temporal, não fazeis outra coisa senão espoliar e roubar vossos súditos, para poderdes levar vida de esplendor e soberba, até o pobre povo comum não poder aguentar mais. Muito bem, então, uma vez que sois a causa desta ira de Deus, ela indubitavelmente cairá sobre vós, se não modificardes a tempo vossos métodos. Os camponeses estão reunidos, e isso pode resultar na ruína, destruição e desolação da Alemanha por duros assassínios e derramamentos de sangue, a menos que Deus seja levado por vosso arrependimento a impedi-lo [...] Não são os camponeses que se levantam contra vós, mas Deus mesmo.(...)

Escolhei, entre os nobres, determinados condes e senhores, e das cidades alguns conselheiros, e tratai desses assuntos e resolvei-os de maneira amistosa. Vós, senhores, abandonai vossa teimosia, e desisti de uma parte de vossa tirania e opressão, para que a pobre gente tenha ar e espaço para viver. Por sua parte, os camponeses deveriam deixar-se instruir,ceder e deixar passar alguns artigos que visam longe demais e alto demais. (Lutero, 'Exortação à paz', abril de 1525. Apud Will Durant, op. cit, p. 323.)

Thomas Munzer, uma das lideranças do movimento camponês, protestou publicamente, chamando Lutero de Dr. Mentiroso:

Então ele não vê que a usura e as taxas impedem que se tenha acesso à fé? Ele afirma que a palavra de Deus é suficiente. Então não vê que os homens que consomem todos os momentos da sua vida na luta pela sobrevivência não têm tempo para aprender a ler a palavra de Deus ? Os príncipes sangram o povo por meio da usura e contam como seus todos os peixes dos rios, os pássaros do ar e a erva dos campos, e o Dr. Mentiroso diz "Amém". Que coragem afinal é a dele, o Dr. Patinha de Gato, o novo Papa de Wittenberg, o Dr. Cadeira de Balanço, o sicofante amante dos banhos de sol? Ah, ele afirma que não deve haver revolta porque a espada foi entregue por Deus aos governantes. Mas o poder da espada pertence a toda a comunidade! (Thomas Munzer, carta pública a Lutero, 1525. Apud Henry Kamen, op. cit., p. 32.)

Lutero condena os camponeses

Os camponeses prosseguiram com a revolta, atacando castelos e cidades, distribuindo terras e alimentos. A rebelião espalhou-se tão depressa que em maio do mesmo ano já havia combates entre senhores e camponeses em inúmeras regiões da Alemanha. Lutero lançou então outro panfleto condenando severamente os camponeses o que resultou em um banho de sangue:
No primeiro livro não me aventurei a julgar os camponeses, uma vez que tinham oferecido deixar-se acomodar e instruir. Mas antes que eu me voltasse para eles, esquecendo seu oferecimento, entregaram-se à violência, e roubaram, enfureceram-se e agiram como cães enraivecidos. O que estão fazendo é obra do Diabo, e em particular é obra do arquidiabo [refere-se a Thomas Munzer] que governa em Mulhausen. Devo principiar apresentando-lhes seus pecados. Em seguida devo ensinar aos governantes como deverão conduzir-se nessas circunstâncias [...]

Qualquer homem contra o qual se possa provar sedição está fora da lei de Deus e do Império, de modo que o primeiro que puder matá-lo está agindo acertadamente e bem. Pois a rebelião traz consigo uma terra cheia de assassínios e derrama¬mento de sangue, faz viúvas e órfãos, e põe tudo de cabeça para baixo. Portanto, que todo aquele que puder, elimine, mate e apunhale, secreta ou abertamente, um rebelde. E como quando se tem de matar um cão raivoso, se não o matarmos ele nos matará, e um país inteiro conosco. [...]

O Evangelho não torna comuns os bens, exceto no caso daqueles que fazem por espontânea vontade, o que os Apósto los e discípulos fizeram nos Atos IV. Não pediram, como fazem nossos camponeses alucinados em sua fúria, que os bens dos outros — de um Pilatos ou de um Herodes — ficassem em comum, e sim seus próprios bens. Entretanto, nossos camponeses querem comunizar os bens dos outros homens, e que os seus próprios fiquem para eles. Que belos cristãos, esses! Acho que não sobrou nenhum diabo no inferno, transformaram-se todos em camponeses.[...] É uma ninharia para Deus o morticínio de um lote de camponeses, pois ele afogou a Humanidade inteira por meio do Dilúvio, e fez desaparecer Sodoma por meio do fogo. (Lutero, 'Contra as hordas salteadoras e assassinas de camponeses', maio de 1525. Apud Will Durant, op. cit., p. 326.)

Após inúmeros e sangrentos confrontos, os exércitos dos senhores e príncipes derrotaram os camponeses, assassinando milhares deles e muitos outros envolvidos, inclusive Thomas Munzer, uma das principais lideranças. Com isso, consolidou-se o poder dos príncipes e senhores, e a estrutura feudal ficou reforçada na Alemanha.

Um comentário:

sinas disse...

No fundo os prstestante aplicaram os mesmos métodos que os católicos